Urano - Personificação do céu




De acordo com a mitologia grega, Urano seria o deus do céu e esposo de Gaia, deusa da terra. Da sua união teriam nascido os seis Titãs, os três Ciclopes, as seis Titânides e os três Hecatonquiros. Urano, Gaia e a sua descendência eram referidos como divindades primordiais, das quais derivariam as diversas famílias de deuses gregos. 

De acordo com determinadas tradições, Urano odiava os seus filhos e assim que estes nasciam escondia-os no seio da terra, na zona do Tártaro, condenando-os a viverem ali para sempre. Gaia, revoltada com esta situação, teria incitado os filhos à punição do pai. Cronos, o mais jovem e líder dos Titãs, teria então tomado a seu cargo a missão e na noite seguinte, quando o céu se uniu à terra, cortou-lhe os testículos com uma foice e lançou-os ao mar. 

Outra tradição conta que Gaia, descontente com a sua união e fecundidade forçada, teria pedido aos filhos que a protegessem de Urano. Todos teriam recusado, exceto o mais novo, Cronos, que, tal como na primeira versão referida, teria planeado uma emboscada, mutilando o pai. Esta mutilação teria ocorrido no cabo de Drepano, cujo nome encontra raízes no grego, significando foice. Por vezes, esta lenda é associada a Corfu, uma ilha na região dos Feaces, que seria a foice que Cronos lançara ao mar e aí se enraizara. 

Outras tradições referem que a Sicília teria sido fecundada pelo sangue de Urano, residindo aí o segredo da sua grande fertilidade. Segundo Diodoro Sículo, Urano teria sido o primeiro rei dos Atlantes. Este povo justo e piedoso vivia nas margens do Oceano e Urano tê-los-ia apresentado à civilização e à cultura. Enquanto astrónomo hábil, teria sido o responsável pela invenção do primeiro calendário, que se baseava no movimento dos astros, sendo também capaz de adivinhar acontecimentos futuros. 

No seu leito de morte, ter-lhe-iam sido atribuídas honras divinas, que se teriam tornado progressivamente complexas, sendo por isso confundido e identificado com o próprio céu. Segundo esta tradição, Urano seria pai de quarenta e cinco filhos, dezoito dos quais eram fruto da sua união com Tita (mais tarde identificada como Geia) e eram denominados Titãs, por derivação do nome materno. As filhas de Urano teriam sido Basileia, mais tarde assimilada a Cíbele, e Reia, cognominada Pandora. Basileia, possuidora de uma grande beleza, teria sucedido o pai e casado com Hiperíon, um dos irmãos, dando à luz Hélio (o Sol) e Selene (a Lua). 

Diodoro aponta também como descendentes de Urano Atlas e Crono, enquanto Platão refere, na mesma condição, Oceano e Tétis. Urano e Gaia teriam sido os responsáveis, de acordo com Hesíodo, por duas profecias de grande importância na mitologia grega: a primeira teria advertido Crono que o seu reino terminaria no dia em que um dos seus filhos o vencesse; a segunda profecia teria alertado Zeus relativamente ao filho gerado em Métis. 

Por vezes, Urano é referido como filho Gaia, sendo apresentado noutros poemas como descendente de Éter ou como filho de Hémera, a personificação feminina do Dia. De acordo com a teogania órfica, Urano e Gaia seriam filhos da Noite. A ausência de uma genealogia clara, relativa a Urano, explica-se pelo facto de não existirem lendas precisas que sirvam como base para a mesma. 

A lenda que cerca a figura do deus do Céu resulta, sobretudo, de interpretações simbólicas de cosmogonias eruditas. Ainda que durante o período helenístico não tenha sido atribuído um papel de grande importância a Urano, a sua figura foi cultuada por toda a Grécia Antiga, tendo sido referido, por Hesíodo, como senhor do Universo.

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